Um corpo nasce preparado para sentir, mas não nasce a saber o que fazer com aquilo que sente.
Para que a emoção se torne experiência humana,é preciso que exista alguém que a acolha.
Na psicanálise, dizemos que o sujeito se constitui na relação com o Outro.
No filme Frankenstein, vemos um corpo vivo, mas que não foi reconhecido, nomeado ou desejado.
Há vida biológica, mas não há inscrição afectiva.
Falta o olhar que diz: “Tu existes para mim.”
Quando uma criança cresce num ambiente marcado pela dureza, crítica, indiferença ou violência emocional, o aparelho psíquico aprende uma regra de sobrevivência:
sentir é perigoso.
Para se proteger, o corpo fecha-se.
As emoções não desaparecem: deslocam-se.
Tornam-se tensão, dor, ansiedade, ou comportamentos de fuga, agressividade ou retração.
No filme, a violência do criador não gera um “monstro” por natureza.
Gera alguém que não aprendeu a ser humano através da relação.
Em contraste, quando a figura feminina se aproxima com delicadeza, gentileza e presença, algo essencial acontece:
o Ser responde ao cuidado.
Isto é educativo:
aprendemos a sentir quando somos sentidos.
Onde há cuidado, a emoção pode ser nomeada.
Onde há segurança, o corpo baixa a defesa e permite o vínculo.
É aqui que surge o sujeito:
quando o corpo deixa de estar apenas em sobrevivência
e passa a poder existir.
Em terapia, trabalhamos exactamente nisso:
restituir ao corpo a possibilidade de sentir-se seguro para sentir.
A cura não está na força, no impacto ou na correcção.
A cura acontece na relação que não agride, não abandona e não invade.
É nesse espaço que a alma regressa ao corpo.
E que a humanidade, enfim, aparece.
Este filme ilustra de forma evidente que a ciência do corpo não pode negar a ciência da alma.
A realidade biológica não explica tudo se não considerarmos a experiência emocional.
Não há vida plena sem afecto, sem vínculo e sem reconhecimento.
A emoção não é um detalhe: é uma condição da própria humanidade.
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